O problema de estar perto de quem nos viu crescer é que surgem todos os preconceitos e julgamentos tão gostosos e fáceis de evitar há milhares de quilômetros de distância. E de quem nos conhece só de vista então: vem todas as respostas e fofocas que nos dão de graça, sem a gente nem pensar em perguntar ou instigar nadica de nada. E confesso que essa vida real não está sendo muito agradável de encarar.
Não me entenda mal. Não é que você não possa me conhecer ou saber as idéias que passam pela minha cabeça e coloco por aqui quase sem querer. Pelo contrário, se você pretende passar o resto dos seus dias ao meu lado nada mais justo do que saber de mim de trás para frente, conhecer os meus trejeitos, as minhas manias. O que me incomoda é você receber tudo assim, de mão beijada. Sem mistérios ou ilusões.
Tenho medo que com os textos você tire conclusões precipitadas sobre mim. Não quero rótulos ou expectativas. Quero é que as horas que passamos juntos atestem a minha personalidade. Quero que você dê o seu próprio veredicto.
Também é ruim pensar que você pode ficar chateado ou intrigado com algum texto. Ou ainda: é desconfortável crer que você pode tentar me ler nas entrelinhas, procurar supostas mensagens subliminares e entender tudo errado. Alem disso, não suporto interrogatórios inúteis. Perguntas sobre o que escrevo ou deixo de escrever podem me reprimir. Eu não quero censuras.
A pergunta me espantou tanto que sequer consegui responder de imediato. Percebendo meu embaraço, ela prosseguiu: “sempre te vejo com um sorriso gigantesco no rosto, sempre soltas brincadeiras ou piadas, sempre tens uma palavra para alegrar e espantar qualquer desânimo”. A menina falava aquilo de forma tão positiva, de maneira tão carinhosa, que fiquei com dó não atender suas expectativas e esbocei um sorriso de concordância, daqueles com a boca retorcida.
Mas como sou péssima com mentiras ou omissões e não consigo manter segredos meus, vou logo assumir: eu fico triste, todos os dias, invariavelmente.
Consigo ser feliz e infeliz ao mesmo tempo. Livros e filmes, documentários e notícias, facilmente fazem brotar esses dois sentimentos aqui por dentro. Emoções perceptíveis a olho nu, meu olhar se nubla enquanto meu coração amolece meus lábios. Aliás, para saber de mim procure reparar nos meus olhos, eles não foram feitos para enganar.
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