Deitei-me e a cama levantou âncora para a travessia da noite. Fazia um calor tremendo e no meu quarto abafado dispensei as cobertas. Após rolar na cama de um lado para outro, finalmente adormeci. Mas não foi um sono tranquilo. Longe disto. A toda hora eu acordava sobressaltado, como que despertado por um perigo iminente, para logo voltar a adormecer.

Foi então que sonhei com você. Foi um sonho estranho, quase real. Os nossos sonhos geralmente se primam pela irrealidade e as figuras que os compõem são vagas, sendo que os motivos são quase sempre inexplicáveis, resumindo-se enfim num emaranhado de coisas sem nexo é difíceis de se contar. Entretanto o meu sonho foi claro e posso contá-lo tim-tim por tim-tim, tais as vivas cores da realidade com que foi traçado.

As margens de um suave riacho, nós dois bem juntinhos, trocávamos juras de amor. Eu, embebida na sua beleza, beijava-o nos lábios, no rosto, nos olhos. . .

Eu, nos seus braços escrava, aconchegava-se a ti à procura dos meus carinhos e por muito tempo trocamos as mais deliciosas carícias. Finalmente havíamos superado os obstáculos que nos separavam e o nosso amor havia triunfado.

Em torno de nós a vida florescia numa beleza estonteante e o perfume das flores misturava-se ao seu. Pássaros em bando pipilavam aqui e acolá, sonorizando nosso idílio, e o riacho cantava uma cantiga de amor.

E foi em meio a toda essa aventura que acordei. Como odiei ter acordado. Tentei dormir para continuar o meu sonho de 'amor, Tudo em vão. Nas noites seguintes, como desejei repetir o sonho!

E se na realidade não podemos nos amar, já que imensas barreiras nos separam, quis ao menos em sonho possuí-lo em meus braços. Nem isto consegui e o nosso idílio continuará se resumindo neste sonho tão belo é tão vivo, do qual jamais quisera haver despertado...