terça-feira, 14 de junho de 2011


Brasileiro é louco por carro diz o comercial de TV. É verdade, a frase já virou até clichê. Mas também por ônibus, por espontânea pressão, e às vezes até por opção.

Vejamos: o ônibus é a salvação dos sem carro. É sempre a dor de cabeça dos ansiosos quando o "monstrengo" teima em não chegar ao ponto no horário de costume. O passageiro agoniza e o "tic" nervoso e tão inevitável quanto à volta incessante dos ponteiros do relógio.

O ônibus é o caos da segunda feira, mas o abrigo temporário do mal humorado, da moça com TPM, do bla, bla, bla do hipocondríaco. O ônibus está entre a esperança e o desespero do "homo urbanus".

O ônibus ainda continua sendo uma das melhores desculpas para o inconfundível atrasadinho que ao cruzar com o patrão na recepção da empresa dispara: desculpe, foi ele, o "buzú".

O ônibus é a agonia do trabalhador, mas o transporte perfeito depois de uma carona frustrada. É o bem e o mal necessários, o confidente silencioso para os sentimentos mais secretos.

No ônibus se vê de tudo e em tempo real. Desde os arroubos e as tagarelices dos adolescentes na alegria do encontro, até ao acesso de fúria do rebelde "com causa" que o transforma em sparing para se vingar do mundo "injusto".

O ônibus é a linha tênue entre a paranóia do dia a dia e a busca contínua e inglória pela sobrevivência. É um ícone do modus vivendi da contemporaneidade. É um dos símbolos dos "ismos". Do capitalismo e do socialismo.

No percurso há dois momentos gloriosos: primeiro quando o transporte sai do ponto de parada, segundo quando chega ao destino. O resto é luta. Luta contra si mesmo e contra a vontade alheia.

É um situação de dependência, pois a liberdade no ônibus está apenas no pensamento. Dependo do motorista, dependo do folgado que cruza os braços no meio do corredor, dependo do cobrador que avisa ou não "ao motor" que ainda estou subindo ou que ainda não desci, dependo do solidário passageiro que vai pedir ou não o pesado fardo que carrego em pé.

Dependo até do clima: se o dia tiver calorento posso chegar amarrotado ao trabalho, posso perder o vale transporte em meio à confusão. Posso perder a prova, a carteira, o compromisso, só não posso perder o bom humor, afinal: amanhã começa tudo de novo.

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