Hoje eu queria te dizer, minha mãe, do quanto olhar para você me faz sentir saudade. Vontade de um tempo onde chamar por teu nome era fazer do teorema difícil a mais simples conta de somar. Querência dos anos através dos quais você pode me contar de fadas e dragões. E até me mostrar ou sugerir o que havia de bom no pote ao fim do arco-íris.
Você minha mãe, nunca me disse contos isso são coisas que argumenteis, você mãe sempre foi guerreira, hoje passa por tantas e tantas coisas da quais não consigo nem guarda comigo sem derramar gotas que dos meus olhos saem!
Quantas vezes tive medo da noite escura e ouvir sua voz era fazer do meu quarto a mais inexpugnável fortaleza. Hoje olho para você e te vejo tão frágil que fecho os olhos para reconstruir a armadura que – imaginava – você tinha por debaixo daquela roupa. Sem medo do trabalho, da rua escura, do ônibus lotado, da chuva torrencial, da assustadora barata que ainda hoje aprisiona a aryeli no castelo tenebroso do eterno medo.
Um sentimento de puro, imensurável e espetacular amor por você mãe, arde em meu peito como chama que não se extingue. Então, um ardor de saudade sangra minhas entranhas e as memórias se engalfinham em devaneios.
Nesses momentos, sinto como se teu perfume, tirado de mim tão subitamente, tivesse preenchido o ar à minha volta e impregnado as ruas, corredores, salas, jardins e alamedas da minha cidade.
Minha tristeza momentânea, motivo de uma ausência ainda sufocante mesmo que tão longínqua no tempo, aperta meu coração e então viro chuva de lágrimas que teimam em não cessar. Carinhos, afagos da tua pele macia que posso apenas lembrar. Apenas lembrar...
Mãe, o que fazer com essa sensação de perda que não finda? O que fazer com tantos jovens secos por dentro, frios, racionais, concretos, insensíveis à tua presença? O que fazer com essa geração que perdeu o prazer de recostar no peito materno e deixar-se ali, acalentando sonhos, absorvendo ternamente a energia que brota incessante do teu corpo protetor?
Mãe, que saudade! Não há artifício que possa substituir a tua falta na minha vida. E cada momento sem a tua presença é como se, aos poucos, eu fosse me desfazendo pelo caminho em direção a uma solidão qualquer. Uma solidão-mulher!
Mãe estou precisando tanto de você ao meu lado.
Então, mãe querida, olho em volta e vejo tantos filhos-ocos, filhos-pedras, filhos-aço, filhos-impávidos, filhos-games, filhos-droga, filhos-griffe, filhos-internet, filhos-asilo, filhos-profissionais, filhos-indiferentes... Todos eles perdidos, sem notar a presença materna vital na construção humana e então fico desolada de saudade de você.
O mundo está precisando tanto de você aqui.
"Difícil ficar sem você, às vezes só faço chorar
Ouvir seu lamento daqui, saudades eu sinto daí."
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